Diz a lenda que o ano era 1980, aliás, o
ano em que eu nasci. No meio do mato, vagava um menino com jeito de lenhador.
Reza a lenda que ao ver o menino com cara de lenhador, um detector de talentos
pensou “imagina esse menino cavando”. Foi assim que começou a carreira de
Sérgio Pierobom no futebol de mesa. E a partir daí, acaba a lenda e começa a
história a ser escrita. O mesmo menino, no mesmo ano, foi disputar o Campeonato
Estadual Especial, e para surpresa de muitos, sagrou-se campeão. O restante da
carreira de Sérgio Pierobom dispensa comentários. Basta uma visita aos sites
especializados no futebol de mesa (recomendo o http://futmesapedia.com/) que
vocês saberão um pouco mais da história desse monstro sagrado.
Mas peço licença ao meu amigo Sérgio
Pierobom para dedicar a coluna de hoje a outro botonista de sua família, o
Bicampeão da Academia, Mateus Pierobom, ou simplesmente, Mathias. Chegar ao
bicampeonato da Academia, competindo contra verdadeiras lendas do futebol de
mesa é algo difícil para qualquer um, mas especialmente para o Mathias.
Diferente de toda criança que eu conheço, Mathias foi amaldiçoado na infância
da pior forma que uma criança pode ser amaldiçoada. Irritado com a voz fina do
menino, Paulo Zilberknop olhou para ele e profetizou, para quem quisesse ouvir:
“EU
AINDA VOU FAZER ELE CHORAR. EU NÃO TENHO PRESSA”.
Peço a todos os botonistas que
acompanham o nosso blog que pensem nisso. Todos sentimos um pouco de medo do
Zilber, mesmo sendo uns barbados. Imagina uma criança, indefesa, ouvir uma
ameaça dessas. Imagina o tempo de terapia necessário para se recuperar disso.
Talvez fosse até necessário abandonar a cidade por um tempo, ir para a praia
(Florianópolis, talvez), para somente depois de maduro voltar. E foi isso que o
menino Mathias fez.
Nas mesas, Mathias é o mais baiano dos
gaúchos. Joga liso como os nordestinos, e não como os gaúchos. É o rei do
corte, o rei dos tiros (não estou falando de tiros de meta), o rei das
recuadas. Diz a lenda que num jogo decisivo do Centro-Sul Brasileiro num ano
desses, o adversário olhou para Mathias e perguntou: “O 7 é atacante, certo? O 14 é atacante, certo? E o 11, é atacante
também? O 21 lá atrás, é atacante? E o 26, é atacante?” Indignado ao ouvir
cinco SIM seguidos o botonista não aguentou: “Tu tá louco, rapaz? O que é que você está pensando do futebol de mesa?”
Mathias joga com cinco levantadores, todos
com nome e sobrenome. Na semifinal contra Augusto, por exemplo, sobrou uma
bola, nos pés de David Trezeguet. O desfecho era óbvio. Na final contra
Alexandre, Mathias precisava apenas do empate, a pior coisa que pode acontecer
com um botonista tipo o Mathias. Ele aprendeu desde pequeno, com o sangue dos
Pierobom, de que o jogo é para cima, que o objetivo é o gol (Cauane, favor
explicar que nem todos têm o gol como objetivo). Imagina alguém dizer para o
Mathias, ou para o Roberto Baggio, que dessa vez eles não precisam fazer gol.
Que o empate por 0x0 basta. Isso é quase uma ofensa para alguém com sangue
Pierobom. Mas de uns anos para trás, até o Mathias teve que aprender que, às
vezes, somente às vezes, o objetivo realmente é não tomar gol.
Parabéns ao campeão Mathias, ao vice
campeão Alexandre Gomes, que jogou como campeão, e aos demais finalistas. Foi
um sábado inesquecível. A lamentar apenas a péssima arbitragem de Zilber que
influenciou de maneira direta o resultado da partida semifinal. Esperamos que o
CHEFE, durante 2013, faça um curso com o Maciel para finalmente aprender a
arbitrar como antigamente.
Japão
E não é que o Figueira foi campeão do
mundo mesmo? Mas eu fico imaginando o Figueira no estádio no Japão, pensando
assim no intervalo: “O que é melhor, ser
campeão do mundo assim, e aturar o Pedrinho pro resto da vida, ou perder com
falha do Cássio, para eu não ter que aturar o Pedrinho?” Para quem não sabe, faz muito tempo que eu tenho dizendo
todas as quintas-feiras que esse tal Cássio é goleiro de seleção, daqueles que
disputa 2-3 Copas do Mundo com a camisa amarelinha (ou em 50 Tons de Cinza,
como prefere o Cristian Costa).
Durante os debates sobre o assunto, só o
Marcelo Vinhas concorda com a minha posição. Os outros, especialmente o
Figueira, lançam (lançavam) dúvidas sobre o goleiro. “Ele não sai bem do gol”. “Ele
ainda é imaturo”. Essas são algumas das pérolas que tenho que ouvir nas
quintas-feiras. Fico com a sensação de que depois de ontem o próprio Figueira
vai mudar de ideia.
E vamos combinar que agora, só agora, o
Corinthians pode se declarar campeão do mundo. O uso do termo bicampeão, no
caso do Corinthians, deveria ser proibido.
Centenário Xavante
No dia 07 de Setembro de 2012, o time
com a melhor torcida do mundo, completou 100 anos de idade. Muita gente,
especialmente de fora de Pelotas, não sabe muito bem o que é ser Brasil. Para
esses, sugiro que assistam o DVD que foi criado sobre o Centenário Xavante.
Entre muitas estórias, destaco algumas abaixo:
Seletiva para decidir quem representaria
a Zona Sul no Estadual de Futsal. Primeiro jogo fora de casa, derrota por 4x3.
Segundo jogo em casa, Brasil 2x1. Uma lida no regulamento e ficou claro: a
decisão é na moeda. O árbitro vai para o meio da quadra para sortear a moeda.
Um dos jogadores do Brasil avisa aos colegas: “Ele vai atirar a moeda, ela vai quicar no chão, e antes que ela pare,
vou sair correndo comemorando, e todos devem fazer o mesmo”. O árbitro
atira a moeda, que quica no chão e sobe. Nesse exato instante, todo o time
Xavante começa a correr no meio da quadra, a moeda desaparece e todos no
ginásio têm certeza. Ganhou o Brasil no sorteio. A moeda nunca mais foi vista,
o Brasil jogou o Estadual, o autor da façanha nunca mais conseguiu veranear no
Cassino.
Brapel no estacionamento da galeteria.
Com 15 minutos de jogo, um dos jogadores do Brasil é expulso. Aos 20 minutos, o
segundo jogador é expulso. Isso mesmo, teríamos que jogar os próximos 70
minutos (e talvez prorrogação) com 2 jogadores a menos. Logo depois da segunda
expulsão, cruzamento na área do Pelotas, gol do Brasil. Saímos ganhando, com 2
jogadores a menos. O Pelotas vem para cima e empata, ainda no primeiro tempo.
Começa o segundo tempo e o Pelotas rapidamente vira o jogo. Alguns torcedores
ao meu lado dizem que vão embora, para não verem a goleada. Começam pequenas
brigas na arquibancada Xavante, ninguém deixando os outros irem embora. O
Pelotas tem chance de fazer o terceiro, o quarto, o quinto, o sexto. Mas aos 20
minutos do segundo tempo, o Pelotas tira um meia e coloca um volante. O
objetivo passa a ser tocar a bola e esperar o tempo passar. Aos 40 minutos, o
Brasil cava uma falta perto do meio de campo. A torcida começa a gritar: “É campeão, É campeão”. Um dos jogadores
admitiu no DVD que perguntou ao colega: “Mas
o que está acontecendo. Nós estamos ganhando ou empatando?” O colega
responde: “Não, nós estamos perdendo. É
que eles acham que nós vamos fazer um gol agora”. Cruzamento na área, gol
do Brasil. O jogo termina e vai para a prorrogação, com gol de ouro. Um time
tem 11 jogadores. O outro tem 9 guerreiros. Por mais impossível que qualquer
leitor possa achar, todos no estádio têm certeza de que o Brasil vai sair
vencedor. Cruzamento na área do Pelotas, a zaga afasta, Tiago Rodrigues dá um
peixinho, o lateral do Pelotas prensa com a trave, gol do Brasil. Isso sim
merece DVD (e tem, para quem quiser ver).
O ônibus do Brasil tinha virado.
Tínhamos perdido 3 pessoas, sendo o maior craque, um prata da casa e um colega
meu, treinador de goleiros. Três semanas depois tínhamos que estrear contra o
Santa Cruz no Gauchão. O árbitro determina um minuto de silêncio. A torcida do Brasil
simplesmente não consegue fazer um minuto de silêncio. Foi um minuto dos cantos
mais apaixonados que já vi na vida, um minuto de lágrimas de todos os presentes
no estádio, um minuto que nunca será esquecido. O jogo começa, o Brasil faz
1x0. O Santa Cruz vira. O Brasil desconta. O jogo está 3x2 para eles e o Brasil
consegue uma falta na ponta esquerda. Alex Martins, o melhor amigo de um dos
falecidos, o jogador mais identificado com a torcida na época, vai para a área.
A torcida toda, antes da cobrança da falta, grita: “Alex, Alex, Alex”. Naquele momento,
depois de tudo o que passou, a torcida Xavante não se satisfaria com gol do
Brasil. Tinha que ser gol do Alex Martins para o Brasil. Bola na área, gol de
Alex Martins. Ele sai comemorando chorando, para na frente da torcida, dá três
flechadas para o céu, uma para cada amigo que partiu.
Assim é o Brasil. A única torcida do
mundo que prevê gols. A única torcida que é apaixonada pelo time, pelo clube e
por si própria (Schlee, 2012). Nada se compara. Talvez alguns precisem ouvir os
depoimentos de Ruy Carlos Ostermann, Paulo Santana, Luiz Felipe Scolari, Pelé,
ou outras pessoas no DVD. Só assim podem entender. Mas se não entenderem nem
assim, aí eu só posso lamentar.
2 comentários:
Pedrinho,
Maravilhosas histórias que estão em sua coluna. Confesso que fiquei emocionado com as narrativas sobre a torcida xavante. Foi uma descrição tão real e tão forte que emociona a todos. Parabéns.
Obrigado Sambaquy. Esse é o Xavante. E ainda existem várias outras histórias, uma melhor do que a outra.
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