VINHAS DE ONDE? por Marcelo Vinhas

Convidado por Pedrinho, uma vez tentei jogar tênis no Dunas Clube. Aquele foi o dia em que a minha carreira iniciou e terminou no esporte. Entretanto sempre gostei de assistir. Nos anos 90 fui fã de Pete Sampras, com seu estilo frio e calculista de empilhar títulos. Sempre tentei idealizar analogamente algumas características do tênis no futebol de mesa. A questão psicológica de ambos é semelhante por serem esportes individuais, no qual o jogador não pode receber instruções durante o jogo. Mas isso é assunto para outra hora.

Em 2010 comprei duas biografias esportivas. A primeira intitulada Mente de Campeão, de Pete Sampras. A segunda era um livro maior, de 500 páginas, tendo na capa a foto de um careca de olhos arregalados sob o título de AGASSI. Após ler as duas autobiografias, virei fã de Andre Agassi e passei a achar Sampras um baita chato, mas isso também é assunto para outra hora.

Transcrevo abaixo trechos do livro AGASSI. Não é aconselhável para os que não leram e ainda pretendem ler a autobiografia do tenista. Nesta parte o pai de Andre, sem a mãe saber, permitia que o menino matasse aula, contanto que fosse treinar no Cambridge Club.

- Aquele é Jim Brown, o maior jogador de futebol americano de todos os tempos.

Ele é uma parede enorme de músculos, vestindo roupa de tenista e calçando meias de atleta. Já o vi antes no Cambridge. Quando não está jogando tênis a dinheiro, está jogando gamão ou dardos, sempre a dinheiro. Como meu pai, Sr. Brown fala muito sobre dinheiro. Neste momento ele se queixa ao Sr. Fong sobre uma partida a dinheiro que estava combinada, mas o adversário não apareceu.

- Quer uma partida?

- Quero.

- Meu filho Andre vai jogar com você.

- Não vou jogar com um moleque de oito anos.

- Nove.

- Nove? Ah, bom, não tinha reparado...

Ele ri, assim como alguns outros caras que estão por perto e ouviram a conversa.

- Olhe – diz o Sr. Brown – Eu não jogo para me divertir, entende? Jogo por grana!

- Meu filho vai jogar valendo dinheiro.

- Ah, é? Quanto?

- Aposto a porra da minha casa!

- Não preciso da sua casa, já tenho uma. Mas topo se for 10 mil dólares.

- Combinado – diz meu pai.

Devagar, percebo que está me observando. Com atenção. Ele se aproxima e se apresenta, com um aperto de mão. Sua mão é um calo só. Ele pergunta há quanto tempo jogo, quantas partidas já ganhei e quantas perdi.

- Eu nunca perdi – respondo baixinho.

- Não faça isso, Jim – diz o Sr. Fong, chamando Jim de lado.

- O cara está pedindo – murmura o jogador – o bobão e seu dinheiro.

- Você não está entendendo – insiste o Sr. Fong – você vai perder, Jim.

- Você está maluco? Ele é uma criança!

- Mas não é uma criança qualquer.

Neste último campeonato brasileiro fui eliminado na primeira fase eliminatória (mata-mata), após um 0x0 diante do campeão Aldemar Neto (RN). Fiz uma boa partida, mas nunca na vida vi alguém jogar defensivamente com tamanha perfeição. Não à toa que Aldemar sofreu apenas 1 gol em todo o campeonato.

Com isso tive tempo de assistir alguns momentos das semifinais dos juniores. Emerson foi eliminado ao sofrer um gol do baiano Iago Chagas no último minuto. Gustavo Lima, o nosso “Pica-Pau” e não aquele músico chato do “Tchererê”, escapou da derrota no último lance do jogo, também nas semi.

- Quem foi que disse que Pica-Pau era só em desenho? – Comemorou.

Na final, Gustavo (13 anos) enfrentaria o baiano Iago, de 18 anos. O baiano ainda provocou: “Gaúcho eu só conheço Ronaldinho”.

Quem quiser saber como acabou a partida entre o menino Andre contra o ex-jogador Jim Brown, vai precisar ler no livro AGASSI. Todos sabem como acabou a finalíssima do nosso pequeno Gustavo Pica-Pau diante do baiano Iago. Se Pica-Pau irá ser um Andre Agassi das mesas de botão, só o tempo dirá. Potencial para isso não lhe falta. O certo é que, assim como o tenista, Pica-Pau definitivamente não é uma criança qualquer.

Termino com uma frase de Alex Degani: “Que vergonha para a AFM Caxias, colocar o Carraro pra jogar na equipe e deixar o Pica-Pau de fora”.