quinta-feira, 18 de outubro de 2012

MANIFESTO & SOM, por Juarez Fuão

O Extraordinário Quarto do Túlio: o templo do vinil e do acrílico - Parte II

A década de 90 é recheada de boas lembranças sobre o futmesa e seus personagens. Houve um período em que o Departamento de Futebol de Mesa do Sport Club Rio Grande não abria mais em todos os dias da semana. Era quase um pânico instaurado nas cabeças dos maiores “fomes” tricolores. Terças, quintas e finais de semanas eram esperados com muita ansiedade. O que poderíamos fazer nos demais dias? Passear? Estudar? Que nada! A clássica dupla rock & botão deixava tudo mais para trás. Ela era a prioridade. O resto vinha depois, quando sobrava algum tempo. Eis que a saudosa sede do Departamento, com seu belo símbolo milimetricamente pintado ao fundo e o templo de madeira chamado Buchechô (mesa batizada pelo falecido mestre De Boer), era temporariamente substituída pelo Extraordinário Quarto do Túlio.

Como ninguém é de ferro (a não ser o Robert Downey Jr), obviamente éramos seduzidos por um simples Estrelão. Aquela conhecida tábua pintada de verde chamada de mesa de botão. Tenho certeza absoluta que você leitor já passou por ela. Um dia ela já foi a sua mesa oficial. Ela marca a fase infantil que todo o botonista já deixou para trás e, por isso, não menos importante para a formação de um campeão. Uma espécie de “pelada” do futmesa.

Quando a vontade de jogar era tanta, e a maldita sede se encontrava fechada, o Túlio se encaminhava para o lado de seu guarda-roupa e sacava a “taubinha” (como também carinhosamente chamávamos todas as mesas do SCRG, muito provavelmente por conta do botonista Elson...mas isso é uma outra história que deixo para o Mário Ribeiro contar). Pegávamos os “puxadores” a partíamos para rápidos confrontos.

Certa vez, entre uma partida e outra, resolvemos dar uma parada. Lá estava eu, o Casquete (o botonista mais ofensivo que já vi jogar), e o “dono do quarto”. Ao fundo, acabara de tocar o vinil Arise, da banda de Metal Trash Sepultura. Nele há um clássico do Motorhead chamado Orgasmatron. Música puramente visceral, todavia, por incrível que possa parecer, com um grande e expressado sentimento. Sentimento metaleiro, mas, como diria o R. Gaúcho, “sentimento é sentimento”, não importa. Eis que o Casquete fica com a música matutando em seu capacete. Parte da letra não saía de sua cabeça. Aproveitando o momento, Túlio pega um gravador (desses com fita cassete, óbvio!) e tem a grandiosa ideia de gravar o amigo cantando o clássico do Motorhead. Seria uma espécie de versão riograndina botonística do clássico que costumava fechar os shows do Sepultura. Apesar de não ser nenhum Elvis Presley, Casquete também ganharia um acompanhamento de guitarra. Claro que não deixaríamos o amigo sozinho em frente ao moderno e constrangedor gravador.

Tudo pronto: gravador ligado, guitarra plugada e cantor preparado. Era tanta a autoconfiança do vocal que o mesmo descartou o uso do encarte que trazia a letra da bela Orgasmatron. Ele conhecia a letra de cor, acabara de escutar a música mais uma vez enquanto jogava. Bom, começa a guitarra e, quando entra o vocal, Casquete Cavalera grunhe com todo o sentimento: “I mim the one, Orgasmatron...”. A gravação para. Ríamos, mas ríamos muito! Explicamos o assassinato a sangue frio que Casquete havia cometido ao idioma. Tudo explicado, passamos a uma nova gravação. Dessa vez o cantor não cairia em armadilhas da memória, visto que o encarte contendo a letra estava em suas mãos. Recomeça a gravação e Casquete Cavalera canta: “I mim the one, Orgasmatron...”. Na mesma hora paramos novamente. Desistimos! Ganhamos mais uma sessão incontrolável de risadas, entretanto perdemos a chance de mostrar ao Sepultura como se faz uma verdadeira versão do clássico Motorhead. Azar! Voltamos ao nosso Estrelão.

Falando no idioma britânico, havia um outro personagem que se destacava nesse quesito: o multicampeão Cristian Baptista. Sua chegada ao quarto do Túlio era acompanhada por um ritual. Entrava, cumprimentava os presentes, sentava, olhava para o “dono do quarto” e delegava: “Túlio, a guiléssss off uááter!”. Incrível!! A pronúncia era tão clara quanto um imigrante bósnio, com descendência iraniana, no primeiro semestre de um curso de inglês em Macau! Dois minutos depois chegava o Túlio com uma caneca de metal, com símbolo do Inter, cheia de água e cerca de 10 gelos. Sinal de que a sede estava fechada...
Enfim, quem disse que futmesa e cultura não andam juntos?

4 comentários:

Caju disse...

Inclui nesta lista Fuão a clássica Sacrifice de Lenny e cia...É pancada...hehehehe.

Abraço.

jfuao disse...

É que naquela época o pessoal que frequentava o espaço era bem mais Sepultura do que Motorhead. Essa era absorvida indiretamente.

Silva.lfs disse...

E os Beatles....?

jfuao disse...

Os Beatles aparecerão em breve.