quinta-feira, 11 de outubro de 2012

MANIFESTO & SOM, por Juarez Fuão

Minha última postagem parece ter despertado um bom sentimento saudosista naqueles que compartilhavam um mesmo círculo de relações na Cidade do Rio Grande. Conforme enfatizado na semana passada, formávamos um grupo unido por dois motivos básicos: jogar futmesa e escutar (debater) rock n’ roll. Como uma seita secreta, tínhamos o nosso templo. Apesar de pequeno, era o NOSSO templo! Praticamente estatizamos uma pequena peça: o quarto do Túlio. Por vezes, dependendo do interesse da visita, pouco interessava se o dono estava ou não em casa. Entrávamos e esperávamos o pseudo-dono chegar da universidade (mas claro que isso era exceção, como vocês perceberão na crônica abaixo). E é sobre esse templo do rock e do botão que irei discorrer nos próximos posts.

Como uma saga, demonstrarei toda a importância que essa peça residencial teve na formação de vários botonistas oriundos do antigo Departamento de Futebol de Mesa do Sport Club Rio Grande. Pelo templo (ou quarto do Túlio) passaram figuras como o Mário Ribeiro, Sandro Almeida, Cristian Baptista, Mauro Saraiva, Rafael Muller (casquete), entre outros. Alguns deles, mesmo com foco maior no futmesa, não ficaram totalmente imunes ao som que magicamente brotava daquela velha agulha do falecido 3 em 1.

Por isso tudo, começa aqui a série semanal “O Extraordinário Quarto do Túlio: o templo do vinil e do acrílico.” Começaremos com um depoimento de Mário Ribeiro, o Sensacional Escriba do Rio Grande de São Pedro. Um dos primeiros frequentadores do nosso templo.

Ah, todas as quintas a porta estará aberta. Há muitas histórias a serem contadas...


O Extraordinário Quarto do Túlio: o templo do vinil e do acrílico - Parte I

Literalmente me escalei para mandar este registro histórico para o blog do meu querido amigo Juarez Fuão. Trata-se, na verdade, do resgate de uma das mais interessantes figuras que conheci em todos os tempos, Eduardo Costa Ribeiro, vulgo “Túlio”. Conheci o Eduardo ainda na escola, no final dos anos setenta, início dos anos oitenta, o Eduardo era um guri soturno que sentava na frente e falava muito pouco. Após conhecê-lo, fiquei sabendo que ele era daquele jeito, pois havia feito uma cirurgia cardíaca para corrigir o defeito em uma válvula, então ficara limitado em suas atividades físicas. Nesta época, o Eduardo foi apelidado por um colega nosso o Cláudio carioca de “Túlio Boca Negra”, por causa de uma jaqueta que o Eduardo possuía que era parecida com a usada pelo Chico Anysio quando interpretava esse personagem. Dessa data em diante o Eduardo deixou de existir e surgiu o TÚLIO.

Passado algum tempo, eu já jogava botão no SC Rio Grande, então convidei o Túlio para participar, isso era final dos anos oitenta, início dos anos noventa. A partir de então, passei a ter mais contato com o Túlio e a frequentar a casa dele. O pai do Túlio, seu Pedro havia falecido há muito tempo, ele morava, na época, com sua mãe, a Dona Neusa (não sei se ainda é viva) e com sua avó, Dona Maria (essa com certeza já deve ter morrido) e também com seu irmão Ely (que era um advogado porta de cadeia). Mas o mais importante disso tudo era o “quarto” do Túlio. A casa do Túlio fica em Rio Grande em uma zona central, na Avenida Silva Paes e, o quarto do Túlio tinha a janela para a rua, então se batia na janela para que o Túlio atendesse, pois de nada adiantava bater na campainha e ser atendido pela avó do Túlio, que dizia que ali não morava nenhum Túlio. O mais interessante era que, naquele quarto, em que nos reuníamos todos, não tínhamos nenhuma maldade, ouvíamos música, falávamos de futebol e de botão.

Mas o que me levou a escrever não é nada disso, mas sim o fato de o Túlio ter no quarto dele diversos livros de magia negra e de satanismo, inclusive um deles todo escrito em letra verde. Além disso, outro fato interessante é que o Túlio jamais trabalhou, no sentido de prover sua subsistência através de uma atividade remunerada. Pelo que eu sei, o Túlio vive de renda de locações e vive para jogar um tal de RPG, um jogo que eu nunca entendi. De qualquer forma o quarto do Túlio foi o primeiro espaço grunge da cidade do Rio Grande. Nesta época o Juarez só gostava de Metallica e de Iron Maiden, Beatles “era pros fraco”, Paul McCartney jamais foi citado naquela época.

Seja como for, guardo boas lembranças do quarto do Túlio, quando ingenuamente acreditávamos que, em 1992 o Grêmio não seria rebaixado e que haveria uma “virada de mesa”. Enfim, fatos de uma juventude que não volta mais. Um abraço aos amigos que prestigiam este espaço!

Mário Ribeiro



5 comentários:

Pedrinho Gmail disse...

Que prazer ter o Mario Ribeiro no nosso blog. Pergunto: quem namorava quem no quarto do Túlio?

Marcelo disse...

JG e Mário,

Conheci o Túlio no fim dos anos 90 quando no mesmo carro voltávamos de um Centro-Sul em Porto Alegre: Osmar, Eu, Cristian e Túlio.

Chegamos em Pelotas e não conheci a voz do Túlio. Até lembro que em certo momento o Cristian falou alguma coisa com o Túlio, mas ele não respondeu.

Abraço,
Vinhas.

Augusto 2 - toques disse...

O Túlio deve ser maçom

Cristian Baptista disse...

O Túlio é muito gente boa. Apesar da aparência assustadora não fazia mal pra uma formiga. Aquele quarto realmente tem muita historia. Pena que naquela epoca não tinha câmera digital, fecebook ou mesmo internet. As lembranças ficaram na memória. Qualquer um poderia imaginar que ali era boca de fumo e droga mas jamais que se falava de música e botão. A glass of water....

jfuao disse...

Bah, acabasses com uma frase que eu já planejava colocar em um dos capítulos da série. Agora vou ter que antecipar já para a próxima quinta!